sábado, 2 de abril de 2016

Lua

o vento
que balança o mundo
que balança as casas
que balança o fundo
das tuas mágoas

que levanta surdo
que se faz sussurro
e depois deságua;
no fundo surdo do fim do mundo
na lama rasa que te invade em vagas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A meia de seda disfarça minha prótese mas nao minha dor. Por mais que minha perda não seja fisica ela está presente em todo meu corpo.
Eu gosto de fazer minha própria comida para agradar ao meu gosto. Eu gosto de me sentar sozinho na mesa a noite para jantar. Minha vida tornou-se perfeita quando eliminei as outras pessoas e suas ansiedades e me foquei em mim. Nada no mundo substituiria a dignidade da minha solidão e a devoção que dedico a mim mesmo

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Me sinto tão calma que eu me afogaria sem me debater nessa piscina de plástico. Foda-se se a sua jujuba de anis acabou. Eu mereço descansar sob o céu nesse dia ensolarado. Eu não quero que você chore, mas se você continuar insistindo vou te dar uns hematomas que serão motivo pra você chorar. Meu amor por você é maior que o da Nossa Senhora Aparecida,mas se você não sumir da minha frente além de não ter pai, você não terá mais mãe. Me deixa relaxar na piscina de plástico pra eu aguentar outro dia.

Queimava como um inferno mas não tinha jeito, teria de esperar até o dia seguinte. Enquanto esperasse podia ver o por do sol ou o sangue escorrendo das minhas costas. Não importa, não importa, quero sentir o couro do seu chicote mais uma vez.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Éramos 7 conspiradores. Trabalhávamos juntos e  tínhamos uma fixação em comum; colecionar brinquedos eróticos usados. Sempre que um de nós conseguia uma aquisição nova era aquele frisson no escritório. O borburinho, o riso envergonhado, os sussurros conspiratórios. Nossa sorte é que o escritório ficava no andar de cima de um cine-zona que sempre nos oferecia farto material.

Ainda lembro das tardes de sábado quando nos reuníamos para tomar chá e cheirar nossas relíquias, era um barato! Mas um dia nos propusemos nosso desafio maior; conseguir o brinquedinho de nossa chefe. Sabíamos por sua atitude, postura e pela forma enérgica com que nos tratava que com certeza ela transava ao longo do dia, no escritório. A mulher é uma caçadora dá pra sentir no seu olhar, na sua presença.

E é claro que todos nós percebemos que a secretária nova não foi escolhida apenas por sua competência. Mas ainda resta o problema; como entrar na sala dela depois dela ter trepado pra conseguir o objeto. Sabíamos da existência dele, vimos no correio da empresa a descrição: "VIBRADOR DE DUPLA PENETRAÇÃO".

A solução veio logo de Mathias, que é o mais prático. Colocar sonífero no café e depois vasculhar o lugar. O próprio foi executar o plano. Voltou com uma caixa com o vibrador de dupla penetração ainda melado de baba de buceta.

À noite vamos abrir, cheirar e talvez até usemos em dupla, eu e Mathias enquanto os outros bebem chá e nos observam.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Januário Fervente.

Mil novecentos e noventa e nunca.
Era um ano em que os sons alteravam os sentidos das sílabas, e assim tudo se desconstruía. Era lindo o deformalismo. Em nossa contagem éramos 13 artistas deformalistas. E as vezes 12. Outras nenhum, porque um dos princípios do deformalismo era não saber contar. Contar histórias sim, as vezes elas eram sem pé nem cabeça, mas parecia a quem escutava os cantos de milhares de aves perdidas no inverno.

Mil novecentos e dois mil e um.
Agora somos menos ainda, e por isso mais fortes. Nada pode segurar nossa desunião. Dislexia ou morte! - gritam os mais exaltados, em um arroubo ufanista. Estamos divididos, todos nós meio a meio. Metade deformalistas e a outra metade deformalados. As metades deformaladas foram-se embora voando para dentro das cavernas do nosso espírito. E do que restou nada aresta.

Dos mil e ontem.
Parece que foi hoje que tudo começou. Agora só existe o plano, graças a abolição do volume. Estamos cadavéricamente firmes. Sem esquecer das direitemporas para que batamos continência. Incontinentes sigamos, rumo a fralda geriátrica. Sem precisarmos mais de pernas para caminhar ou de pulmões para respirar; temos tudo em nossos dentes, dentes que pendem firmes, dependendo da ocasião e que dançam tango desavergonhadamente diante de um não. Dentes a sorrir  como um arreganhar de presas de animal faminto, temos dentes e mais nada, somos dentes a te cravar na pele.

Dois mil e catreze.
Mal posso esperar pelo futuro, ele que não me ocorra mais.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A quatro mãos

Passo,
não sei se esqueço
daquele tropeço
que me afastou de ti
Se bem me lembro
não tinha ninguém ali
pra me amparar
com um abraço

Só sei que essse
bem estar passado
não é seguro de futuro alegre
mas sim de sonho escasso.

Sigo adiante catando cavaco
pra fazer um samba
sobre esse descaso
que separou pena e papel

E me coloco de réu
acusado de assassinato
da poesia que nós fizemos
a quatro mãos.