Toda noite dormida é a morte de um estado. É um reset do computador. A consciência frágil, que mal suporta a continuidade durante a vida desperta, fraqueja fragorosamente durante o sono. Acordo outro, instrumento desafinado, máquina fria. Essa sobrevida sonâmbula que levo nas madrugadas diante da tela, cansado demais para pensar, disperso demais para manter uma atividade é o esperneio desesperado de uma personalidade moribunda. Quando durmo mudo, acordo sem saber quem eu sou, o que desejo, quais meus objetivos, qual meu humor, qual meu caráter. Até a hora de dormir de novo vou me inventando, para depois, exausto, me apagar novamente. Não me lembro o que eu queria ser a uns instantes atrás, não me lembro o que achava repugnante e impraticável. Admiração e ódio trocam de lugar sem eu saber, sem eu sentir. Não posso dormir, não posso, se não serei enganado.
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