Jogando fora todos os sonhos mais uma vez sou só corpo, mais uma vez sem memória, mais uma vez sem sentido. Tenho sentido um propósito maior, maior que a própria vida. Mais uma vez a força, mais uma vez o medo de não estar a altura do destino que escolhi. Ou escolheram – não é possível precisar o quanto há de voluntário e o quanto há de contingente nessa condição. Agora nada mais é minha vontade, mas tudo é vontade de vida que não me pertence. Nunca pertenceu, nunca fui o timoneiro. Mas já admirei o horizonte, e a luz que emanava era insuportável. Desviei o olhar, não tenho mais olhos, agora sou apenas corpo.
Sinto o calor, sinto o frescor da brisa, sinto os meus sonhos que flutuam em torno de mim roçar de leve minha pele e arrepiar. Sinto uma aura que me circunda, e é tão volátil que desaparece com um espirro. Sinto que não há interior que baste pro que me espera, sinto que tenho que ser só sentido. Os sonhos devem estar a flor da pele, não cabem dentro de mim. Os sonhos não são meus; são sussurros do vento, são borbulhar de águas, são olhar de águia.
Serena revolta que me atinge, sombria vibração que balança meu corpo; é a respiração da terra. De novo sou um sopro grave – expiro.
De novo sou novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário