terça-feira, 28 de julho de 2015

Januário Fervente.

Mil novecentos e noventa e nunca.
Era um ano em que os sons alteravam os sentidos das sílabas, e assim tudo se desconstruía. Era lindo o deformalismo. Em nossa contagem éramos 13 artistas deformalistas. E as vezes 12. Outras nenhum, porque um dos princípios do deformalismo era não saber contar. Contar histórias sim, as vezes elas eram sem pé nem cabeça, mas parecia a quem escutava os cantos de milhares de aves perdidas no inverno.

Mil novecentos e dois mil e um.
Agora somos menos ainda, e por isso mais fortes. Nada pode segurar nossa desunião. Dislexia ou morte! - gritam os mais exaltados, em um arroubo ufanista. Estamos divididos, todos nós meio a meio. Metade deformalistas e a outra metade deformalados. As metades deformaladas foram-se embora voando para dentro das cavernas do nosso espírito. E do que restou nada aresta.

Dos mil e ontem.
Parece que foi hoje que tudo começou. Agora só existe o plano, graças a abolição do volume. Estamos cadavéricamente firmes. Sem esquecer das direitemporas para que batamos continência. Incontinentes sigamos, rumo a fralda geriátrica. Sem precisarmos mais de pernas para caminhar ou de pulmões para respirar; temos tudo em nossos dentes, dentes que pendem firmes, dependendo da ocasião e que dançam tango desavergonhadamente diante de um não. Dentes a sorrir  como um arreganhar de presas de animal faminto, temos dentes e mais nada, somos dentes a te cravar na pele.

Dois mil e catreze.
Mal posso esperar pelo futuro, ele que não me ocorra mais.

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