terça-feira, 3 de novembro de 2015

Éramos 7 conspiradores. Trabalhávamos juntos e  tínhamos uma fixação em comum; colecionar brinquedos eróticos usados. Sempre que um de nós conseguia uma aquisição nova era aquele frisson no escritório. O borburinho, o riso envergonhado, os sussurros conspiratórios. Nossa sorte é que o escritório ficava no andar de cima de um cine-zona que sempre nos oferecia farto material.

Ainda lembro das tardes de sábado quando nos reuníamos para tomar chá e cheirar nossas relíquias, era um barato! Mas um dia nos propusemos nosso desafio maior; conseguir o brinquedinho de nossa chefe. Sabíamos por sua atitude, postura e pela forma enérgica com que nos tratava que com certeza ela transava ao longo do dia, no escritório. A mulher é uma caçadora dá pra sentir no seu olhar, na sua presença.

E é claro que todos nós percebemos que a secretária nova não foi escolhida apenas por sua competência. Mas ainda resta o problema; como entrar na sala dela depois dela ter trepado pra conseguir o objeto. Sabíamos da existência dele, vimos no correio da empresa a descrição: "VIBRADOR DE DUPLA PENETRAÇÃO".

A solução veio logo de Mathias, que é o mais prático. Colocar sonífero no café e depois vasculhar o lugar. O próprio foi executar o plano. Voltou com uma caixa com o vibrador de dupla penetração ainda melado de baba de buceta.

À noite vamos abrir, cheirar e talvez até usemos em dupla, eu e Mathias enquanto os outros bebem chá e nos observam.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Januário Fervente.

Mil novecentos e noventa e nunca.
Era um ano em que os sons alteravam os sentidos das sílabas, e assim tudo se desconstruía. Era lindo o deformalismo. Em nossa contagem éramos 13 artistas deformalistas. E as vezes 12. Outras nenhum, porque um dos princípios do deformalismo era não saber contar. Contar histórias sim, as vezes elas eram sem pé nem cabeça, mas parecia a quem escutava os cantos de milhares de aves perdidas no inverno.

Mil novecentos e dois mil e um.
Agora somos menos ainda, e por isso mais fortes. Nada pode segurar nossa desunião. Dislexia ou morte! - gritam os mais exaltados, em um arroubo ufanista. Estamos divididos, todos nós meio a meio. Metade deformalistas e a outra metade deformalados. As metades deformaladas foram-se embora voando para dentro das cavernas do nosso espírito. E do que restou nada aresta.

Dos mil e ontem.
Parece que foi hoje que tudo começou. Agora só existe o plano, graças a abolição do volume. Estamos cadavéricamente firmes. Sem esquecer das direitemporas para que batamos continência. Incontinentes sigamos, rumo a fralda geriátrica. Sem precisarmos mais de pernas para caminhar ou de pulmões para respirar; temos tudo em nossos dentes, dentes que pendem firmes, dependendo da ocasião e que dançam tango desavergonhadamente diante de um não. Dentes a sorrir  como um arreganhar de presas de animal faminto, temos dentes e mais nada, somos dentes a te cravar na pele.

Dois mil e catreze.
Mal posso esperar pelo futuro, ele que não me ocorra mais.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A quatro mãos

Passo,
não sei se esqueço
daquele tropeço
que me afastou de ti
Se bem me lembro
não tinha ninguém ali
pra me amparar
com um abraço

Só sei que essse
bem estar passado
não é seguro de futuro alegre
mas sim de sonho escasso.

Sigo adiante catando cavaco
pra fazer um samba
sobre esse descaso
que separou pena e papel

E me coloco de réu
acusado de assassinato
da poesia que nós fizemos
a quatro mãos.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

você escreve literatura

você toma uma cachaça
você trepa a noite inteira

você pede que a cidade pare
você implora que o barulho ensurdeça

você pede pra que não acabe
mas não sabe que não tem começo

você implora pra que não tenha fim
mas não sabe que não tem começo

não sabe que não tem começo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

http://www.youtube.com/watch?v=jw-NE5o5dW4

o trem vem, o trem passa
a vida escassa continua
nas ruas, nas praças
em rebanho, multidão

as massas nas missas
buscam redenção

o céu se agita
com alguma oração

conjurando fantasmas
que rondam prédios, colégios, cemitérios...

fazem as festas
em invisíveis revoluções.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Notas do caderno de couro

“Abençoado é aquele que não tem escolha diante da vida, que tem que afirmá-la a todo custo em sua máxima intensidade. Abençoado é aquele que não tem saída. Vivo agora uma vida sem dúvidas, porque a força do que me atinge não me deixa escolha senão a convicção. Tenho que me entregar com todas as forças aos meus atos porque quaisquer que sejam as consequências elas me atingirão com todas as forças. O que quer que eu faça é aquilo que deveria ser feito, pois agora não devo nada além de meus próprios atos. Assim tudo se torna devido e eu agradeço a vida por isso. O que me resta, o que me cabe, é inevitável.” (05/2010)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Como não escrevo poesia, transcrevo histórias reais

Fui acordado por dois hai-cais, um de perna quebrada;

Na sopa boiando
- depois do ataque;
a mosca kamicase.

Avião que no sonho
não consigo abater
mosquito zumbindo
no amanhecer.

Na verdade, foi o mosquito que me acordou
E quem não me deixou voltar a dormir, foram os hai-cais

Tive que terminar em verso
O sonho que não volta mais;

A sensação que eu quero
não é punheta nem sexo,
mas o primeiro apaixonar-se adolescente;
é invenção do amor.