segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Vovô Zequinha


O diafragma de uma câmera fotográfica abre e fecha em poucos milisegundos para a luz entrar e registrar a imagem no filme. Esse pequeno momento que registra a imagem poderia ser uma vida. Essa rápida abertura durou 84 anos, a vida do meu avô foi a piscadela de uma máquina fotográfica.
Eu queria ter aprendido a jogar no bicho com ele e a apostar nos cavalinhos. Ele era um ótimo apostador, um jogador de primeira. Nos últimos dias me disse: "O jogo não é para se ganhar, o  jogo é para se jogar, ganhar é um acidente de percurso que acontece as vezes. O jogo existe para ser jogado, só isso." E a vida existe para ser vivida, só isso, ele me ensinava. Dele ficou meu gosto pelas cartas, meu bigode, e o vício que o levou pra longe, que o fez encantar aos 84. Eu queria ser meu avô. Eu queria seu sorriso doce e sua calma diante da vida. Eu queria seu senso de humor rabugento e inesperado, que divertia surpreendendo, sempre.

Nos últimos tempos o seu gosto por faroestes italianos e meu gosto por cinema nos aproximou ainda mais. Eram ótimas as tardes de filme com cerveja e queijo de aperitivo.

Eu queria ter tido tempo e dinheiro para levá-lo para um passeio naquele cassino de Viña del Mar. Para pagar um bom barbeiro que lhe desse um atendimento especial e lhe comprar um terno de bom corte em um alfaite. Queria vê-lo elegante mais uma vez, jogando cartas naquele lugar. Não houve tempo, mas tudo bem.

Meu avô faleceu dia 8 de janeiro. Dia do fotógrago, sua profissão a vida inteira. O diafragma aberto há alguns milisegundos se fechou e registrou uma imagem: seu sorriso doce. Para sempre numa foto.

Um comentário:

Hidalgo disse...

gracias por isso, Leitão. Pelas lágrimas e pelo amor.