sábado, 15 de novembro de 2008

Aprendendo a andar.

O céu estava em cima, bem em seu lugar, quando ele começou a andar. E foi andando e girando e o chão amolecendo, virando nuvem. E a cabeça doía, arrastando na calçada irregular, batendo nas fendas feitas pelas raízes das árvores. Ele esticou os braços e andou plantando bananeira sem nenhum esforço para se sustentar ou se equilibrar. E os dedos dos pés esticavam e enroscavam e nesse movimento atraíram passarinhos que ali pousaram. Os pelos das pernas cresceram, virando um tufo magnífico por efeito do canto encantado dos pássaros. Os dedos das mãos espicharam, tornando-se imensas cordas finas. E os braços de tanto roçar um no outro na andança começaram a mesclar-se, fundindo-se em um só tronco. Agora só conseguia andar graças aos dedos das mãos, longos e finos que se esticavam e puxavam o resto do corpo, até que cansados fincaram-se no chão. O sangue desceu pra cabeça e iluminando a visão pôde enxergar o horizonte dourado pela luz do sol. Um último bocejo inventou uma toca no meio do corpo delgado que se esticava verticalmente. Tinha desaprendido a andar, tornara-se uma árvore.

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