sábado, 15 de novembro de 2008

Cabra

Meu pai me ensinou que caprino é gado de pobre. Bicho forte o suficiente pra virar sinônimo de dureza: cabra, cabra-macho. Come tudo, come espinho, come mato seco, come terra, come chão. Não passa fome nem morre seco, bicho sertanejo. A cabra é a comida dos palestinos, era a comida do menino Jesus e este mesmo era chamado de cordeiro. Viajava em lombo de jumento e vivia em zona árida, deserto de homens, caatinga do mato torcido e caminho santo. A fé sertaneja em si já é fato extraordinário, por que há mais de dois mil anos passa de pai pra filho, do filho pro neto, do neto pro bisneto... No meio do sertão, barro vermelho e secura, enquanto houver homem há cristão. Mas tem algo além da tradição que une esse povo do sertão ao homem-santo. São as cabras, é a secura da vida, é o mato torcido, é sacrifício e penitência do mundo, é a comunhão da experiência vivida. O sertanejo olha e vê com os olhos santos, a paisagem árida e o caminho da salvação. Isso tudo eu aprendi com meu pai.

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