domingo, 6 de junho de 2010

Lá do alto só podia se ver o campo limpo. Mais de dez léguas caminhei para alcançar o lugar onde construí minha morada. Do lado de cá, atrás do morro Deus ergueu a floresta onde eu caço a madeira pra construir o curral das cabras.
Depois do inverno - quando já começava a esquentar - as cabras começaram a desaparecer; era a onça. Resolvi tomar uma atitude com temor da ira que despertaria o atentado contra ser tão majestoso.
Peguei meu rifle e saí com o sol ainda alto para me empuleirar numa posição boa. Passei dois dias e duas noite no alto da árvore esperando, e a onça não aparecia; astuta, pressentiu minha presença e se esquivou do perigo - pensei comigo.
Na terceira noite, com a lua alta, a onça apareceu com seu couro tigrado e antes que eu pudesse fazer mira ela me fitou dentro dos olhos lançando seu encanto felino sobre mim. Fiquei paralisado com o olhar que me atravessava, o rifle me escorreu pelas mãos e foi se perder nos arbustos abaixo da árvore. Ela se virou e seguiu seu caminho.
No dia seguinte, quando o sol nasceu, fui ver as cabras. Menos duas; sobraram só as carcaças. Não podendo defendê-las resolvi por me oferecer em sacrifício.
Na noite do mesmo dia caminhei floresta adentro desarmado para me render ao inimigo. A lua, ainda cheia, alumiava o caminho por entre as folhas das árvores. Senti que ela me farejava, mas bicho superior que é, não armou tocaia - me encarou sem artifício.
De novo lançou seu olhar assassino dentro de mim, me atravessando. Deu o bote e me derrubou no chão, mas não cravou suas garras em mim; ficou me encarando longamente e de perto senti seu hálito de carne fresca. Era doce. Enterrei meus dedos em seus cabelos e nos amamos ali, no chão da floresta, entre folhas secas e galhos.
Depois de saciada ela me devorou, e agora corremos juntos pelas pradarias e florestas caçando cabras e qualquer animal que a terra nos ofereça.

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