sábado, 23 de outubro de 2010

Jogando fora todos os sonhos mais uma vez sou só corpo, mais uma vez sem memória, mais uma vez sem sentido. Tenho sentido um propósito maior, maior que a própria vida. Mais uma vez a força, mais uma vez o medo de não estar a altura do destino que escolhi. Ou escolheram – não é possível precisar o quanto há de voluntário e o quanto há de contingente nessa condição. Agora nada mais é minha vontade, mas tudo é vontade de vida que não me pertence. Nunca pertenceu, nunca fui o timoneiro. Mas já admirei o horizonte, e a luz que emanava era insuportável. Desviei o olhar, não tenho mais olhos, agora sou apenas corpo.
Sinto o calor, sinto o frescor da brisa, sinto os meus sonhos que flutuam em torno de mim roçar de leve minha pele e arrepiar. Sinto uma aura que me circunda, e é tão volátil que desaparece com um espirro. Sinto que não há interior que baste pro que me espera, sinto que tenho que ser só sentido. Os sonhos devem estar a flor da pele, não cabem dentro de mim. Os sonhos não são meus; são sussurros do vento, são borbulhar de águas, são olhar de águia.
Serena revolta que me atinge, sombria vibração que balança meu corpo; é a respiração da terra. De novo sou um sopro grave – expiro. 

De novo sou novo.

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