sábado, 19 de dezembro de 2009

Ela o encontrou sentado em um banco de praça. Ele não a viu, continuou olhando para frente sem dar conta de sua presença. Ela sentou-se ao seu lado. Ele não virou o rosto, continuou olhando em frente, mirando o horizonte.
Ela lhe perguntou: "o que você vê?" - e um segundo após terminar a pergunta percebeu que ele era cego. Ele a respondeu assim:
"Vejo o céu pipocado de nuvens na alvorada, todo rosado. Vejo no campo verde as ninfas correndo a buscar abrigo nos bosques, na sombra das árvores. Também correm os centauros ribombando o chão com seu galope, como se a terra fosse tambor.
Na rua de pedras o trabalhador desce, já com a pele lustrosa do calor da manhã. Leva na mão seu almoço embrulhado e em seu cinto as ferramentas da obra.
Um fauno com seu sorriso malicioso o convida para uma partida de cartas antes que o sol venha também expulsá-lo para os bosques. Queria enganar o homem mas este não o escutou, pois já era cristão e agora ele só era enganado por seu patrão, seu pastor, seu magistrado - não jogava mais com os faunos, não dançava mais com as ninfas, não bebia com os leprechauns. Assim como eu não posso mais enxergá-la, mas consigo ouvir-te e sei que está sentada ao meu lado soprando lembranças no meu coração."

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