terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os sonhos não têm hora para vir, mas também não têm hora para ir embora. Queria dizer isso, mas não sabia como. Não havia palavra, e como dizem, a coisa vale por aquilo que ali não deveu caber.
Senil, sentado na soleira da porta, se lembrou de como era, e os olhos não mais enxergavam - a nuvem branca se apossara de todo o horizonte. Apenas uma claridade fosca o alcançava. Sentiu uma mão no seu ombro e levantou a sua própria ao encontro, mas era vazio. O calor repousado em seu ombro o fez lembrar de como deveria ser. Lembrava agora dos seus sonhos, que nunca vieram e nunca se foram. Arrependeu-se por ter apenas sonhado. Era ingrato.
O corpo mole pendeu e caiu, e não sentiu o peso de seus ossos no chão. Sempre quis se soltar e ser sustentado no ar, mas nunca houve ninguém para segurá-lo. Se elevou e sentiu o ar fresco das altitudes superiores. Estava nos braços do anjo que ele esperou a vida toda.
Finalmente leve se foi e não sabia se acordaria dali a pouco com a dor do peso dos ossos. Sua desconfiança fez pesar o peito. Pesava e doía forçando a palavra nos seus lábios: "saudade".
Havia palavra que em língua arcaica significava ausência do presente. Era a palavra dos exilados, dos velhos, e com eles calou quando se tornaram ausentes. Esse verbete arcano ecoava do início dos tempos, pulsando silêncio. Sem tempo surgiu, sem tempo se foi.
Não estava mais só, estava acompanhado da morte, seu último portador. Morria a saudade.

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